Em 13 de dezembro de 1915, na pequena cidade de Santa Teresa, nascia um grande defensor da natureza: Augusto Ruschi. Vindo de família tradicional no trabalho da ciência, no cultivo e estudo de plantas, Augusto Ruschi, ainda menino já apresentava uma grande curiosidade pelas plantas que seu pai cultivava.
Iniciou seus estudos no colégio Ítalo brasileiro em Santa Tereza, mas devido a sua curiosidade diversas vezes teve a atenção chamada nas aulas, pois brincava constantemente com insetos que levava em vidrinhos e caixinhas de fósforos.
Aos 10 anos passou a residir em Vitória Espírito Santo, para estudar no colégio estadual. Sua grande incentivadora foi a pesquisadora e historiadora Maria Estela de Novaes que percebendo sua paixão pela vida dos insetos, passou a incentivá-lo para o mundo da ciência. Aos 12 anos tornou-se conhecido por vários cientistas do país.
Muitas vezes, Ruschi era dado como louco, pois passava dias vivendo pelas matas, observando, desenhando e colecionando plantas. Numa ocasião enviou suas observações sobre uma praga dos laranjais que assolava as lavouras, descrevendo o ciclo do bicho ao museu nacional. Ruschi havia observado mais de 500 caixas de lagartas. Suas informações foram suficientes para a resolução do problema, pois completava uma pesquisa mundial as respeito do assunto.
Aos 17 anos, o Prof. Melo Leitão, responsável pelo museu nacional ao deparar com a pesquisa de Ruschi, resolveu apadrinhá-lo. Então Ruschi começou a trabalhar no museu nacional e no jardim botânico e zoológicos como coletor de materiais botânicos e zoológicos.
Em 1937, com apenas 22 anos passou a residir definitivamente no Rio de Janeiro, passando a lecionar na Universidade Federal do Brasil hoje a UFRJ. Ruschi devorava uma bibliografia que rapidamente era absorvida. Sentiu que o trabalho no campo era muito mais relevante que o trabalho nos laboratórios.
Augusto Ruschi foi um dos mais famosos naturalistas do país. Ganhou notoriedade em 1951, num congresso florestal da Organização das Nações Unidas (ONU), durante o qual previu que as reservas ecológicas seriam os bancos genéticos e de habitats do futuro, preservando da extinção espécies animais e vegetais e microrganismos. Isso muito antes de ficarem famosas as expressões "biodiversidade" e "biotecnologia".
Com destaque também no campo da Agroecologia, já apontava em seus inúmeros trabalhos científicos (cerca de 500) e livros (23) os perigos dos agrotóxicos e da monocultura do eucalipto. Advertia ainda que o desmatamento é o primeiro passo para a formação de desertos.
Amante da natureza passou a maior parte da vida explorando e estudando a flora e a fauna brasileiras e lutando pela preservação da natureza. Foi um grande estudioso de beija-flores, sendo o autor da maior obra sobre este pássaro do mundo.
Classificou 80% das espécies brasileiras de colibris, identificou duas novas e elaborou a descrição de outras cinco e de onze subespécies. Foi notável ainda por seu estudo sobre orquídeas, catalogando mais de 600 espécies e identificando 50 novas.
Estudou também as bromélias e os morcegos de seu Estado natal. Ecologista e preservacionista intransigente, impediu, empunhando uma espingarda, que o governo capixaba desapropriasse a Reserva Biológica de Santa Lúcia – onde morava e a transformasse numa plantação de palmito. Também foi aí que realizou a maior parte de suas pesquisas.
Interditou o desmatamento autorizado pelo ministro da Agricultura, da Fazenda Klabin, um pedaço de Mata Atlântica, onde vivem três espécies de beija-flores em extinção. Disse: "A alegria do barulho desses beija-flores não vai silenciar enquanto eu existir", uma vez em entrevista a imprensa.
Foi membro de treze sociedades científicas internacionais e com cinco trabalhos apresentados e aprovados em congressos científicos mundiais. Ele transformou sua casa em Santa Teresa num autêntico laboratório de pesquisas, procurado por especialistas de todo o mundo.
Sua última homenagem à natureza veio após a sua morte com os volumes quatro e cinco dos livros “Aves do Brasil”. Ele queria de alguma forma participar das comemorações do dia do meio ambiente e pressentindo sua morte já havia avisado sua família que o lançamento não deveria ser adiado sob nenhum pretexto. Nem com sua morte.
Ruschi morreu no dia 3 de junho de 1986, no hospital São José em Vitória e a pedido seu, foi enterrado no dia 5 de junho, na Fazenda Santa Lúcia, onde nasceu, no dia cinco de junho, dia mundial do meio ambiente.